O Rotary Club de Torres Vedras convidou Jorge Atouguia, investigador e médico especialista em Infecciologia e Medicina Tropical, para uma palestra durante um jantar festivo do clube realizado no passado dia 2.
Jorge Atouguia falou aos rotários sobre o vírus ébola, a propósito do surto epidémico na África Equatorial. Em discussão esteve a origem do vírus, os primeiros casos, os números de mortes envolvidas, as pesquisas já realizadas, o tratamento, os cuidados a ter e as formas de transmissão, entre outras informações úteis.
"O contágio é o grande problema do ébola. É muito fácil de acontecer", alertou o médico. O vírus é transmitido pelo contacto direto com secreções orgânicas de pessoas portadoras do vírus, como suor, saliva, urina, sangue ou fluidos seminais, e pode manter-se vivo pelo menos 24 horas depois da pessoa morrer.
A doença manifesta-se através de febre, hemorragias, dores, vómitos e diarreias, entre outros sintomas. A taxa de mortalidade é alta e não é conhecida ainda uma vacina contra a doença. O período de incubação varia entre os dois e os 21 dias. No caso dos homens pode transmitir-se através do sémen até sete semanas depois de serem dados como curados. Quanto à transmissão por via aéra, o especialista considera que isso "não é considerado viável".
"Combate à doença também é sociológico e antropológico"
Jorge Atouguia referiu que a falta de recursos humanos e financeiros dificultaram o combate à doença, mas considera que as tradições
e as fragilidades sociais e políticas de países como a Guiné-Conacri, Serra Leoa ou Libéria, os mais afetados, também deveriam ter sido levadas em consideração. "O combate ao ébola é também sociológico e antropológico e isto não foi entendido no início do surto", afirmou o médico.
Naqueles países os rituais da morte realizam-se ao longo de vários dias e implicam a lavagem do corpo, agravando ainda mais o contágio entre os familiares das vítimas, porque o vírus mantém-se ativo até 24 horas depois da morte. "É preciso um regime de autoridade para controlar o problema, porque dizer-lhes que não podem lavar os seus mortos é provocar a revolta", explicou o médico.
Segundo Jorge Atouguia, "o maior perigo é que pessoas já infetadas estejam a abandonar aqueles países. Isto porque, no início da doença, os sintomas podem ser confundidos com uma qualquer situação febril e o período de incubação é extenso, o que complica a situação e aumenta a probabilidade de propagação do vírus", disse o médico.
"Comunidade internacional ignorou a doença"
O surto que começou incógnito na Guiné Conacri alastrou-se de forma descontrolada à Serra Leoa e à Libéria, onde se registaram o maior número de mortes. Segundo o médico, o surto apareceu onde nunca antes tinha sido registado e demorou muito tempo até ser identificado, permitindo que nesse tempo muita gente tivesse sido contagiada.
Os serviços de saúde ou não existiam ou colapsaram entretanto, dificultando o acesso aos cuidados médicos até por parte de outros doentes.
"A ignorância é o resumo disto. A comunidade internacional não ligou absolutamente nada às pessoas que morriam na Guiné Conacri, não era nada connosco, até que há um médico que morre e o vírus é então identificado. É esta ignorância que não pode haver". A mesma ignorância que leva a que muitas crianças órfãs vagueem atualmente pelas ruas desses países, sem que ninguém queira saber delas, ou aproximar-se sequer, pois são filhas de vítimas do ébola, denunciou o médico.
A epidemia de ébola já infetou cerca de 16 mil pessoas e fez perto de sete mil vítimas mortais, essencialmente na África ocidental. Os países mais afetados pelo vírus são a Libéria, Serra Leoa e Guiné-Conacri.
Segundo Jorge Atouguia, "o hemisfério norte não corre o risco de uma epidemia, porque temos meios de identificar, tratar e isolar a doença", concluiu.
Jornal Badaladas, edição de 26 de dezembro 2014
Escrito por: Eunice francisco
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