Morreu um amigo... Tinha defeitos, vários!
Quem o conheceu, reconhece-lhe a obra, o espírito de amizade e de companheirismo, o saber receber, a educação e a formação cristã.
Humilde, subiu a pulso na vida deixando um rasto de simpatia por onde passava.
Fernandinho viu-o nascer, estudou até ao antigo 1.o ciclo dos liceus (6 anos de escolaridade), foi empregado em mercearia da então vila de Torres Vedras, cumpriu o Serviço Militar, casou, foi pai de um filho e dedicou-se à profissão dos seguros.
Como agente, deu nas vistas na venda de Seguros de Vida para a Companhia de Seguros GAN, inovadora nesses produtos...
À rua do Comércio em Lisboa – sede da ex Companhia de Seguros TAGUS – chegou a notícia de um vendedor de seguros com grande sucesso na região de Torres Vedras. A Administração não hesitou em contratá-lo para os Serviços Comerciais. O seu desempenho na Região Oeste que lhe ora atribuída, justificou que o convidassem para assumir a Gerência de novel Delegação.
Recebia como ninguém, envolvia equipas como poucos, ambicioso, era ousado e atirava-se aos negócios, dedicando-se concomitantemente à Construção Civil, onde criou três sociedades, para além de outras duas ligadas a equipamentos lúdicos.
Católico praticante, preocupava-se com a comunidade à qual se dedicava afincadamente. Poucas Associações não o tiveram como sócio, ou não receberam em algum momento, preciosa ajuda deste torriense.
O seu bom trato motivou convite para ingressar no Rotary Club de Torres Vedras, ao qual veio a presidir em 1990/91.
Na Santa Casa da Misericórdia, foi como Vice Provedor que assistiu ao falecimento do Provedor Joaquim Mendes. Sucedeu-lhe nos destinos da Misericórdia e criou obra, abriu valências, atreveu-se a desafiar o futuro.
Nem sempre de forma consensual, marcou a Instituição que jurou servir e que honrou.
Dia 1 de Abril de 1979 (um Domingo), acompanhado da esposa, recebeu-me na esplanada da Havaneza para iniciarmos uma dupla de trabalho no dia seguinte. Eu era solteiro e esse meu Chefe (que acabara de conhecer) já havia providenciado, não só o local onde iríamos almoçar (O Pão Saloio), como tinha um quarto reservado na Rua Venerando de Matos para eu habitar. Não permitiu que meu pai, ou este autor, pagássemos o almoço desse dia. Ele era assim... Fruto de bom trabalho, a equipa cresceu, primeiro com o Carlos Duarte, depois outros foram chegando: - Fernando Soares, Espírito Santo, Gaspar – mas uma super fusão (Argus, Douro, Mutual, Ourique e Tagus que originaram a Aliança Seguradora/UAP/AXA/AGEAS) justificou maior número de profissionais.
Chegámos a ser 6 nos escassos 25m2 do escritório, onde só cabiam 5 secretárias, para além das cadeiras de atendimento. Em boa hora abandonámos a Av. Tenente Valadim e inaugurámos nstalações na Rua 1.o de Dezembro. Aí recebemos a Sílvia, o Jorge Moreira, o casal Teresa e Carlos Raimundo, para além do Henrique.
A Delegação ia de vento em popa quando a Dependência da Malveira perdeu o Gerente Rosa Ferreira. A Direcção Comercial fez justiça e convidou o responsável de Torres Vedras para acumular com a Gerência daquela estrutura, mas não o reclassificou como ele merecia!
Incentivou-me a concorrer por outros lugares. Saí em Junho de 1992 para grupo rival. Mantivemos a amizade, respeito e consideração mútua.
Não tinha complexos em privar com eruditos, era audaz e atrevido. Errou muitas vezes, mas nunca desistiu. Até agora, na doença, lutou sempre por cumprir objectivos, mas foi vencido.
Era humano, tinha defeitos e por isso merece o Paraíso!
Hoje, dia do seu funeral, a emoção entorna-me os pensamentos que derramo no computador, como tributo ao Chefe, Colega, Padrinho de Casamento, idem da Misericórdia e do Rotary.
Qualquer dia voltaremos a encontrar-nos. Poderemos então estar em desacordo, ou não!...
Perdi um amigo...
Tinha defeitos, muitos!
Adeus Vasco Fernandes
(T. Vedras, 8 de Junho de 2020)
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